terça-feira, 25 de novembro de 2014

Patrimônio, Memória e Identidade na ótica da salvaguarda do tambor de crioula.




Debater o tema proposto patrimônio, memória e identidade: na ótica da salvaguarda do tambor de crioula do Maranhão e da política nacional de desenvolvimento sustentável dos Povos e comunidades tradicionais de matriz africana configura um momento muito oportuno não só pelo mês da consciência negra, mas principalmente pela proximidade do período de revalidação do título de patrimônio cultural brasileiro outorgado ao Tambor de Crioula do Maranhão. Com o título é institucionalizado o processo de salvaguarda desta expressão que tem como meta a proteção da memória e o fortalecimento da identidade de um povo a partir da promoção e preservação do seu patrimônio cultural de forma garantir a sustentabilidade.

O conceito de cultura, para se debruçar na ideia de patrimônio cultural, é usado geralmente para falar da totalidade dos valores e das práticas humanas. Neste sentido, cultura é tudo que é produzido pelo ser humano.
Por outro lado costuma-se chamar de cultura um tipo de recorte para definir práticas relacionadas artes, entretanto vai muito além disso. O conceito de cultura supera o entendimento de erudição ou produção de arte. Relaciona-se ao modo de vida em sociedade, visões de mundo e a toda ação humana dotada de significado.

A primeira ideia que se tem sobre patrimônio se limita ao produto materializado da história, aos bens tangíveis, ao que foi herdado do passado com valor simbólico de registro social. Mas esse conceito é mais amplo. Nele se inserem experiências e memórias coletivas ou individuais.
Segundo Juliana Santili, “não se pode se desvincular patrimônio material do patrimônio imaterial”.

O patrimônio imaterial não consiste em objetos, mas sim na virtualidade desses objetos: sua concepção, seu plano e o saber sobre eles. Conservar, então o patrimônio imaterial, é, sobretudo conservar objetos já produzidos. Enfim a ideia de patrimônio material esta ligada ao produto e a ideia do patrimônio imaterial está no processo de produção, isto é, nas formas de fazer.

A relação entre patrimônio, memória e identidade está no fato de o patrimônio é a materialidade das lembranças e memórias, sejam individuas ou coletivas que estruturam a identidade através do fortalecimento do sentido de pertencimento. A memória estabelece vínculos entre gerações e eterniza a história na consciência humana.

A construção da identidade está ligada as referencias estabelecidas com a memória registrada e tradição que os indivíduos ou a coletividade estão culturalmente relacionados.

Com o conceito de patrimônio cultural imaterial é estabelecido uma ruptura da visão elitista, monumentalista e sacralizadora de patrimônio cultural. Valoriza a cultura viva enraizada no fazer popular e nos cotidianos da sociedade.

Não é possível compreender os bens culturais sem considerar os valores neles investidos e o que representam. Como foi citado se pode entender a dinâmica do patrimônio imaterial sem o conhecimento da cultura material que lhe dá suporte. Os bens imateriais abrangem todas as formas de saber, fazer e criar.

O patrimônio imaterial é preservado pela tradição. Os conhecimentos tradicionais são produzidos e gerados de forma coletiva, com base na ampla troca e circulação de ideias e informações, transmitidas oralmente de uma geração para outra. Os conhecimentos tradicionais – os saberes – se reportam a uma identidade cultural coletiva e a usos, costumes e tradições coletivamente desenvolvidos, reproduzidos e compartilhados.

Discorrer sobre título do Tambor de Crioula do Maranhão como Patrimônio Cultural Brasileiro e a política de preservação definição é importante lançar mão da definição de CULTURA TRADICIONAL E POPULAR adotada pela Unesco em 1989:

A cultura popular e tradicional é o conjunto de ações que emanam de uma comunidade cultural fundadas na tradição, expressa por um grupo ou por indivíduos e que reconhecidamente respondem por expectativas da comunidade enquanto expressão de sua identidade social e cultural.

O tambor de crioula do Maranhão é uma “forma de expressão de matriz afro-brasileira que envolve dança circular, canto e percussão de tambores. Dela participam as ‘coreiras’, tocadores e cantadores, conduzidos pelo ritmo incessante dos tambores e o influxo das toadas evocadas, culminando na punga (ou umbigada) – movimento coreográfico no qual as dançarinas, num gesto entendido como de saudação e convite, tocam o ventre umas das outras.” E embora se aproxime de outras danças de umbigada existentes na África e no Brasil, somente no Maranhão ela é conhecida com esta denominação.

Esta manifestação da cultura popular maranhense é praticada - originária e predominantemente - por descendentes de escravos africanos pertencentes às classes menos favorecidas dos meios urbanos e rurais, como forma de divertimento ou de pagamento de promessa a São Benedito, santo negro de devoção dessas comunidades no Maranhão, e em todo o Brasil.

Entre as situações que motivam a realização do Tambor de Crioula referimo-nos acima ao pagamento de promessa a São Benedito, mas a celebração pode ocorrer também em louvor a outros santos vinculados ao catolicismo tradicional, bem como a entidades e encantados presentes no universo religioso afro-maranhense. Datas comemorativas santificadas ou profanas são, igualmente, ocasiões propícias para a celebração. Já as apresentações que acontecem durante o carnaval, decorrem mais por demanda do turismo e por incentivo do poder público. O que é preciso distinguir – pois isso pode implicar em diferenças na forma e aspectos da manifestação – é se o Tambor acontece pela vontade e para a fruição de seus praticantes ou, ao contrário, por um contrato - formal ou informal – voltado para apresentações oficiais. Nesta última situação, o grupo deve se propor a seguir as regras inerentes ao evento em questão, e tomar determinadas decisões, como, tipo de roupa a ser usado, o número de brincantes, o tempo de duração da roda, tipo de toada tocada e cantada

Identifica-se atualmente uma tendência à espetacularização dessa forma de expressão, principalmente na capital, São Luís, ocasionada pela demanda turística, por apelo da mídia, e pela perspectiva de uma ‘profissionalização’, como a obtenção das vantagens correspondentes, entre outros fatores. Porém, os elementos ritualísticos e tradicionais vinculados a essa prática ainda se mantêm na grande maioria dos casos, e se fazem presentes com força e destaque nos grupos fixos, nas celebrações espontâneas, tanto no Tambor realizado em louvor a alguma entidade espiritual, quanto naquele que se realiza em pagamento de promessas, ou mesmo por puro entretenimento. Além disso, nos diferentes elementos que estruturam essa manifestação – seja em seus aspectos coreográficos, poético-musicais ou nos fazeres e saberes que lhe são próprios, os elementos rituais se mantêm presentes, conferindo-lhe significado e conteúdo para além da ‘forma’ com que se apresentam, e dos aspectos sensorialmente perceptíveis.

Além dos aspectos materiais e simbólicos acima referidos, esta celebração e este saber-fazer expressam igualmente a resistência cultural dos negros e de seus descendentes no Maranhão. Trata-se de um referencial de extrema importância como afirmação identitária dos grupos que o produzem, além de uma oportunidade de exercitar seus vínculos sociais e comunitários. As festividades agrupam pessoas de mesma origem étnica, geográfica e social, que compartilham um passado comum.

O registro com patrimônio cultural brasileiro foi concedido ao Tambor de Crioula em 2007 e segundo a Política Nacional do Patrimônio Imaterial instituída pelo Decreto federal 3.551/2000 obriga o Estado brasileiro nos seus diversos níveis ao investimento de políticas públicas para salvaguarda dessa expressão cultural.


O Plano de Salvaguarda é o instrumento que norteia e orienta a atuação do Comitê gestor na condução do processo de salvaguarda, bem como promove a reflexão e acerca das ações voltadas para o Tambor de Crioula realizado pelas instâncias públicas locais. O Plano é o resultado do diagnóstico levantado pela auditiva da base social do tambor entre 2008 e 2009.
O plano é divido em 4 eixos:
• Preservação dos modos de fazer o tambor de crioula
• Capacitação de quem faz o tambor de crioula
• Socialização e valorização dos conhecimentos associados ao tambor de crioula
• Registro material


O Comitê Gestor é um colegiado formado por entes públicos, representação de classe, e representantes de áreas de ocorrência do Tambor na região metropolitana da Grande são Luis.

Alguns desafios:

Compreensão e entendimento da política da salvaguarda pelos detentores

Monetarização da produção cultural imposta pela indústria do turismo.


A política de salvaguarda do tambor de crioula reafirma a necessidade de valorização do patrimônio imaterial, da preservação da memória e da elevação da autoestima de uma considerável parcela da sociedade a partir do fortalecimento da identidade cultural, concorrendo assim para garantia de direitos e combate ao racismo e todas as formas de violência correlata.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Ministério da Cultura lança edital de apoio à produção audiovisual afro-brasileira



13/11/2014



A ministra da Cultura interina, Ana Cristina Wanzeler, lançou, nesta quinta-feira (13/11), na Fundação Nacional das Artes (Funarte) em São Paulo (SP), o edital "Curta afirmativo 2014: protagonismo de cineastas afro-brasileiros na produção audiovisual". As inscrições estão abertas até 30 de janeiro de 2015.
A ministra Ana Wanzeler ressaltou a importância do edital que abre espaço para a cultura negra e reafirma a força do audiovisual no país. Ela destacou, também, o fato de o edital se preocupar com o equilíbrio na distribuição dos recursos com o objetivo de estimular a produção cultural em todas as regiões do país. "Buscamos dar voz e protagonismo a produtores negros e à cultura negra, tão essenciais à nossa raiz brasileira, tão fundamentais na formação de nossa identidade como país, mas que historicamente ficaram excluídos das políticas públicas", disse a ministra.
João Batista Silva, da SAV, Ana Cristina Wanzeler, ministra interina da Cultura, e Hilton Cobra, da Fundação Palmares, durante lançamento do edital na Funarte em São Paulo. (Foto de Gustavo Serrate)
Com investimento de R$ 3 milhões, a proposta é apoiar a produção de obras nacionais inéditas dirigidas ou produzidas por negros. A iniciativa premiará 34 obras, 21 curtas-metragens com temática livre e 13 média-metragens que abordem a cultura de matriz africana. O apoio financeiro varia de R$ 100 mil a R$ 125 mil respectivamente.
O presidente da Fundação Cultural Palmares, Hilton Cobra, destacou as iniciativas do Ministério da Cultura (MinC) voltadas à comunidade negra: "Nunca antes neste país tivemos tantos projetos contemplados, em dois anos tivemos 542 projetos beneficiados pelos editais", destacou. Também participaram do evento o diretor de Gestões de Políticas Audiovisuais da Secretaria de Audiovisual do Ministério da Cultura (SAv/MiNC), João Batista Silva, o secretário da Promoção e Igualdade Racial da cidade de São Paulo, Antônio Pinto, além de representantes de associações de comunidades negras, produtores e agitadores culturais.
Inscrições - Os interessados podem se candidatar pela internet, ao acessar o sistema SALICWEB. As obras audiovisuais deverão ser inscritas por pessoas físicas autodeclaradas negras (pretos e pardos, de acordo com as categorias do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE), brasileiros natos ou naturalizados, que se apresentem obrigatoriamente como diretores ou produtores.
Para serem selecionadas, as obras passam por várias etapas de avaliação. Na habilitação, serão checados documentos, itens e informações solicitados em conformidade com exigências do edital. A Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura (SAv/MinC) constituirá comissão técnica para realizar todos os procedimentos necessários à habilitação. Após essa etapa, as obras habilitadas serão avaliadas pela Comissão de Seleção composta por, no mínimo, 3 integrantes, designados pela secretaria.
O lançamento desse edital faz parte de ações afirmativas do MinC voltadas para a população afrodescendente, como feiras, intercâmbios, prêmios e outros editais. A edição do Curta Afirmativo de 2012 teve investimento de mais de R$ 2 milhões e beneficiou 30 projetos de jovens realizadores e produtores negros.



Assessoria de Comunicação

Ministério da Cultura

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

PROJETO VALORIZA COMUNIDADES DE MATRIZ AFRICANA NO MARANHÃO


Pais e Mães de Santo da área Itaqui Bacanga em São Luis, estiveram reunidos no auditório do Parque Botânico da Vale do Rio Doce para o Lançamento do Projeto de Promoção e Valorização das Comunidades de Matriz Africana – IDIYIELE.
O Projeto é coordenado pela Fundação Josué Montello e tem como objetivo o reconhecimento dessas comunidades tradicionais.
Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana são definidos como grupos que se organizam a partir de valores civilizatórios e da cosmovisão trazidos para o país por africanos transladados durante o sistema escravista, o que possibilitou um contínuo civilizatório no Brasil, constituindo territórios próprios caracterizados pela vivência comunitária, pelo acolhimento e pela prestação de serviços à comunidade. (Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana. (SEPPIR, 2013).

O projeto visa criar condições de melhoria de qualidade de vida (com ênfase na educação e saúde) e com ações de fomento ao empreendedorismo. A meta é envolver diretamente mais de duas mil pessoas.
A proposta é que, através do projeto, se apresente um panorama socioeconômico real dessas comunidades aos gestores de políticas públicas, além de legalizar os coletivos existentes e fomentar o empreendedorismo nesses grupos para a melhoria da qualidade de vida dos mesmos.
Serão desenvolvidas, principalmente, atividades com foco na saúde, educação e geração de renda. Estão planejados o levantamento das condições de infraestrutura das comunidades e ações necessárias à resolução dos problemas a serem apresentados; a realização de diversas oficinas voltadas para a utilização das práticas de saúde; a produção de uma cartilha sobre as práticas tradicionais de saúde desenvolvidas nas comunidades de matriz africana; cursos sobre a língua e cultura Yorubana; oficinas sobre Direitos e Cidadania; cursos de música; e diversos seminários temáticos.

1ª ETAPA – ABAYOMI (Encontro Feliz)

Foi realizada a primeira atividade do Projeto IDYIELE no dia 8 de novembro de 2014 na área Itaqui Bacanga. Estiveram presentes mais de oitenta lideranças dos terreiros de religião afro-brasileira. O objetivo do encontro foi reunir informações sobre a realidade socioeconômica e cultural das comunidades tradicionais de terreiro, na perspectiva da participação popular e das políticas públicas, com vistas a subsidiar as decisões dos gestores públicos.
A atividade contou com a parceria das organizações representativas do movimento negro e afro-religioso do estado: CEN – Coletivo de Entidades Negras, FERMA – Fórum Estadual de Religiões Afro-brasileiras do Maranhão, RENAFRO – Rede Nacional de Religiões Afro-brasileiras e Saúde e UNEGRO.

Três temas foram trabalhados: Políticas Sociais, Políticas Econômicas e Políticas Culturais. A base metodológica foi a participação dos líderes afro-religiosos indicando a conjuntura de suas cosas nesses três eixos e principalmente propondo suas reivindicações para orientação destas políticas.
O evento contou, no primeiro momento, com representantes da ONG ”Nossa São Luis” que apresentou um diagnóstico socioeconômico da área.

Ao final foi elaborado relatório com propostas apresentadas que servirá de subsídio de gestão dessas políticas na óptica dessas comunidades tradicionais.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

COMUNIDADES DE TERREIROS DE SÃO LUIS AVALIAM PROPOSTA DE PLANO ESTADUAL DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PARA POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS DE MATRIZ AFRICANA



No dia 31 de outubro de 2014, povos e comunidades tradicionais de matriz africana da Grande Região Metropolitana de São Luis - MA, estiveram reunidos para avaliar e referendar propostas para o Plano Estadual de Desenvolvimento Sustentável para Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana do Maranhão.


Art. 2o A Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Povos e Comunidades Tradicionais PNPCT tem como principal objetivo promover o desenvolvimento sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, com ênfase no reconhecimento, fortalecimento e garantia dos seus direitos territoriais, sociais, ambientais, econômicos e culturais, com respeito e valorização à sua identidade, suas formas de organização e suas instituições.
(Decreto 6.040/2007 – PNPCT)

POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS DE MATRIZ AFRICANA são definidos os grupos que se organizam a partir de valores civilizatórios e da cosmovisão trazidos para o país por africanos transladados durante o sistema escravista, o que possibilitou um contínuo civilizatório no Brasil, constituindo territórios próprios caracterizados pela vivência comunitária, pelo acolhimento e pela prestação de serviços à comunidade. (Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana. (SEPPIR, 2013).

O objetivo do plano é garantir direitos, efetivar a cidadania, combater o racismo e a discriminação sofrida pelos terreiros.
O plano estadual segue o desenho do Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável para Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana lançado pela Secretaria de Promoção de Políticas de Igualdade Racial da Presidência da Republica - SEPPIR com base no Decreto 6.040/2007 que institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável para Povos e Comunidades Tradicionais / PNPCT. O objetivo da PNPCT é Promover o desenvolvimento sustentável com ênfase: Reconhecimento, Fortalecimento, Garantia de direitos – territoriais, sociais, ambientais, econômicos e culturais com base na identidade, forma de organização e suas instituições

O Plano Estadual de Desenvolvimento Sustentável para Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana é uma iniciativa da Secretaria de Estado Extraordinária de Igualdade Racial do Maranhão em parceria com as organização representativas dos Povos de Terreiro do Estado: FERMA - Fórum Estadual de Religiões de Matriz Africana do Maranhão; RENAFRO - Rede Nacional de Religiões Afro-brasileiras e Saúde e a Federação de Umbanda e Cultos Afros do Maranhão e com Secretarias Estaduais de Educação, Saúde, Cultura, Direitos Humanos, Segurança Pública e Meio Ambiente.
As audiências tem como objeto submeter a proposta do plano para referendo dessas comunidades. Outras audiências serão realizadas: na Região do Médio Mearim, Cocais, Leste Maranhense e Litoral Ocidental.

GRUPO DE TRABALHO DE COMBATE A VIOLÊNCIA CONTRA PESSOAS DAS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS

Nos dias 29 e 30 de outubro de 2014, reuniram-se lideranças religiosas de vários estados brasileiros, representantes de coletivos do movimento negro com recorte religioso para discutirem com a SECRETARIA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA - SENASP, do Ministério da Justiça a situação de vulnerabilidade das comunidades afro-religiosas brasileiras e garantia de direitos ao acesso a justiças e segurança pública.
A proposta apresentada, que foi aceita pela Secretária da SENASP, Regina Mink, foi de construção de um Grupo de Trabalho Permanente de combate a violência contra pessoas das religiões afro-brasileiras.


Foram apresentados os primeiros temas elencados como prioritários para redução imediata dos índices crescentes de violência contra as comunidades tradicionais de terreiro impetrados pelos agentes públicos, segmentos neopentecostais, e meios de comunicação, entre outros:
1. Mídia, racismo e desrespeito religioso;
2. Acesso das Religiões de Matrizes Africanas aos sistemas de justiça;
3. Capacitação dos agentes de justiça para lidar com a intolerância/desrespeito religioso;
4. Demarcação legal relativa a liberdade de expressão e liberdade de crença, deveres de cidadania e enfrentamento à intolerância/desrespeito religioso;
5. Laicidade do estado e expressões religiosas;
6. Difusão de direitos e garantias legais às religiões alvo de desrespeito/intolerância religiosa.

O Grupo de Trabalho tem como finalidade de ser o interlocutor entre os operadores de segurança publica estaduais e o Ministério da Justiça através da Secretaria Nacional de Segurança Pública.


INTEGRANTES
Bahia
1. Iyalorixá Jaciara Ribeiro dos Santos (Coord. Nacional de Religiões de Matrizes Africanas do CEN)

AséAbassá de Ogum - Salvador - Bahia

2. Roberto dos Santos Rodrigues (Ilê Axé Opô Afonjá)

3. Marcos Fábio Rezende Correia (Ilê Axé Oxumarê)

4. Joselito crispim DOS Santos (Terreiro Tumba Junsara)

5. MakotaValdina Pinto
Valdina Oliveira Pinto

6. Jocenilda Barbosa Bispo – Ebomy Nilda (Terreiro de Alaketu)

7. Zaildes Iracema de Mello (Mãe Índia – Terreiro do Bogum)

Rio de Janeiro
8. Rosiane Rodrigues de Almeida, sacerdotisa do Ilé Axé Ominlayo e pesquisadora do INCT/InEAC - UFF

9. Deusimar Corrêa – GaiakuDeusimar

10 - Luiz Fernando Martins da Silva

11.Adailton de Oxóssi (Filho de Mãe Beata do Ilê Axé OjuOmiArô)

Minas Gerais
12. DikotaDjanganga – Jane Maria Silva

Paraná
13. Márcio de Jagum – Márcio Marins


Brasília/DF
14. Fernando José de Sá Garcia
Ilê Axé IdáWurá - Distrito Federal

15. Rafael Moreira (Federação da Umbanda e do Candomblé do DF e Entorno)

16. Alexandre de Oxalá

Maranhão
17. Pai Neto de Azile / CEN Maranhão
Danbiraxé Mina Vodun

São Paulo
18. Silvana Veríssimo

19. Elias Pontes de Cerqueira

Goiás
20. Ogan José Luiz Dias Lima (Presidente da Federação de Candomblé)


Piauí
21. Heraldo Barbosa
CEN Piauí

O TAMBOR DE CRIOULA DO MARANHÃO COMEMORA O MÊS DA CONSCIÊNCIA NEGRA

SEMANA DO TAMBOR DE CRIOULA

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em parceria com o Comitê Gestor da Salvaguarda do Tambor de Crioula e a União dos Tambores de Crioula do Maranhão (Unita), realizarão nos dias 17 e 18 de novembro a Semana do Tambor de Crioula.
O evento, que acontecerá no Teatro da Cidade, reunirá coreiros e coreiras, além de gestores públicos das esferas federal, estadual e municipal, num amplo debate sobre a prática do Tambor de Crioula no Maranhão e sua interface com as políticas públicas no Estado.

PROGRAMAÇÃO
Dia 17/11 (segunda-feira) - A PARTIR DAS 14h
MESA 01 – Tambor de crioula para quem: a prática do Tambor de Crioula e a Indústria do Turismo em São Luis.
Mediador – Neto de Azile
MESA 02 – Tambor de Crioula: devoção e obrigação.
Mediador: Luis Guerreiro.

Dia 18/11 (terça-feira) A PARTIR DAS 14h
MESA 01 – O projeto de Salvaguarda do Tambor de Crioula: avanços e resultados.
Mediador: Joila Moraes
MESA 02 – Políticas Públicas para o Tambor de Crioula no Maranhão.
Mediador: Ricardo Rocha

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

AÇÃO DE SAÚDE PREVENTIVA DO HOMEM NO BAIRRO DA LIBERDADE


A maioria dos homens quando buscam atendimento, já o procuram quando a condição de saúde está a nível secundário, ou seja, necessitando de especialistas, pois já estão com morbidades instaladas. Desta forma, torna-se importantíssima, a divulgação de orientações a essa população, visando o fortalecimento da consciência e a busca de atendimento, evitando, portanto, transtornos mais sérios, atingindo com isto, uma adequada qualidade de vida.
É necessária uma política de saúde voltada o homem, para desmistificar o estereótipo de masculinidade que compromete o acesso aos serviços de saúde e a adesão ao tratamento, sobretudo devido à crença na invulnerabilidade do homem.
Os altos índices de mortalidade masculina, sobretudo, quando se faz comparação com a mortalidade feminina, demonstram que a taxa de mortalidade por homicídios entre homens é 12 vezes maior, que a feminina, e 15 vezes, entre 20 e 29 anos (dados da Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde).
Segundo o Ministério da Saúde as mulheres procuram consultas ginecológicas com mais frequência que os homens. Estudos afirmam que 16 milhões de mulheres por ano procuram o ginecologista, uma diferença singular em relação a 2 milhões de homens quando da procura ao urologista, percentual significativo quando comparado.
Em função das doenças crônicas como, diabetes, hipertensão, insuficiência cardíaca, tumores malignos e benignos, infarto do miocárdio, acidente vascular encefálico, enfisema pulmonar etc., a diferença dos números de atendimento ao serviço de saúde entre homens e mulheres é significativa. Fatores como tabagismo, alcoolismo, ingestão de alimentação baseada em gorduras trans e carnes, vida sedentária, violência, DST, são agravantes para a população masculina.
Para tanto, a presente proposta, visa replicar a experiência DIA H SAÚDE DO HOMEM, realizada, no dia 10 de novembro de 2012, na Vila Maruim e entorno, bairro Liberdade, direcionado para pessoas do gênero masculino, com a parceria da Universidade Federal do Maranhão/Centro de Ciências Biológicas, Secretaria de Saúde do Município, Secretaria de Estado da Igualdade Racial, oficinas sobre desenvolvimento de habilidades emocionais e informações sobre DST’S, com a participação de 120 ( cento e vinte homens) com faixa etária de 18 a 59 anos, sendo envolvidos 44 ( quarenta e quatro) profissionais/ e voluntários.
Para 2014, Propomos a continuidade da atividade que será reaplicada no território da escola e nas ruas: Machado de Assis, Gregório de Matos, Nossa Senhora das Graças, Tomé de Sousa, Alberto d Oliveira, Manuel de Jesus, Emilio de Menezes, ruas onde estão localizadas as associações /instituições culturais do bairro Liberdade.

Objetivos:
• Oferecer ações de atenção á saúde preventiva: Obesidade, Doenças cardiovasculares, Diabetes, hipertensão, tabagismo e doenças cardiovasculares;
• Desenvolver habilidades emocionais (afetividade, interação social, paternidade responsável) nos vínculos familiares;
• Informar sobre prevenção de DST’s / AIDS.

3. Metodologia
• Atendimento médico ( verificação de PA, testagem de diabetes, colesterol), saúde preventiva: obesidade, diabetes, hipertensão, tabagismo e doenças cardiovasculares
• Oficinas de relações socioemocionais
• Oficinas de terapias alternativas para saúde
• Palestras / Oficinas sobre doenças sexualmente transmissíveis, cardiovasculares e tabagismo;

REALIZAÇÃO:
Fórum Estadual de Religiões de Matriz Africana do Maranhão - FERMA
Fundação Josué Montelo

sábado, 13 de setembro de 2014

COMUNIDADES DE TERREIRO DE BACABAL DENUNCIAM INTOLERÂNCIA RELIGIOSA para o ouvidor de Justiça do Maranhão




LIBERDADE DE CULTO - Na audiência, representantes de entidades afro-religiosas repudiaram ato do governo municipal que estabeleceu, por meio de decreto, a cobrança de taxas para funcionamento de terreiros e a limitação da realização de rituais em 50 casas de terecô existentes na região. Para o coordenador do Fórum Estadual de Religiões de Matiz Africana, Neto Azile, a ação fere a liberdade de culto e pediu apoio dos órgãos da justiça em documento entregue ao ouvidor.




Exmo. Sr. Dr. Ouvidor Geral do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão – Des. Paulo Velten
“é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantia, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias. (art. 5º, VI da CF/88)




FORUM ESTADUAL DE RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA DO MARANHÃO - FERMA, colegiado de povos e comunidades tradicionais de matriz africana – Comunidades de Terreiro – que tem como foco de suas ações a salvaguarda, manutenção e proteção da tradição cultural e religiosa afro-brasileira no Maranhão embasada no direito a livre expressão da religiosidade, com sede na Rua Alberto de Oliveira, 143, CEP: 65.035-010 em São Luis – Maranhão e neste ato representado por seu coordenador geral Firmino Inácio Fonseca Neto, Neto de Azile, vem, respeitosamente, à presença de V. Exa., com base no art. 5º, VI da Constituição Federal assim como em toda a legislação que disciplina a matéria, solicitar que sejam tomadas medidas no âmbito de Vossa competência para a garantir o direito de liberdade do culto religioso e a garantia da proteção aos locais e liturgias do Terecô que vem sendo limitado no município de Bacabal o que faz na forma na forma a seguir exposta:
Há relatos dos membros da comunidade de adeptos de religiões de matriz africana em Bacabal/MA, especialmente os filhos e filhas de santo do Terecô, de que estão abalados psicologicamente com as novas medidas que estão sendo adotadas para o funcionamento das festas religiosas.
Relatam que nas mais recentes festas religiosas muitos sequer conseguem se concentrar para bem realizar suas obrigações ritualísticas “com medo de que a polícia possa chegar a qualquer momento e acabar com a festa”.
O Terecô, também chamado de Tambor da Mata, é uma religião afro-brasileira que se originou da prática religiosa de negros escravizados nas fazendas dos Vales do Médio Mearim e Médio Itapecuru em tempos imemoriais.
No município de Bacabal/MA há mais de 50 (cinquenta) Terreiros estabelecidos segundo a tradição litúrgica do Terecô. Cada um dos Terreiros constitui-se em um portal espiritual, local privilegiado para a incorporação de entidades espirituais pelos médiuns tendo em vista poder estar facilmente com a “corrente aberta”, constituindo-se em um espaço sagrado de produção e reprodução de tradições religiosas milenares constituindo-se em força renovada dos rituais de origem africana e indígena na região do Médio Mearim.

No calendário litúrgico de cada Terreiro há as Festas Grandes, as Festas Pequenas e dois tipos de Sessões: uma é a Sessão de Mesa Branca e a outra é a Sessão de Toque, cada um desses eventos tem uma ritualística própria e se desenvolvem por obrigação e devoção às entidades espirituais.
Na tradição do Terecô na região do Mearim os festejos grandes ocorriam em 12 (doze) dias (07 dias de ladainhas em latim, 04 dias de toque de tambor com a vinda dos santos e depois mais um dia comemorando a vinda dos santos), porém, atualmente, vários dos terreiros no município de Bacabal, em especial os localizados na zona urbana, as festas grandes duram no máximo por 03 (três) dias, reduzindo em muito o ritual tradicional.
Cada um dos Terreiros possui um calendário litúrgico próprio, com suas festas tradicionais ocorrendo em datas determinadas, para além dessas, é comum entre os adeptos do culto do Terecô a organização de “festas de promessa” como obrigação por uma graça recebida.
Há, portanto, neste contexto festas religiosas (strito sensu), festas religiosa-profanas e festas profano-religiosas. Porém os rituais sagrados estão sendo tratados pelo Poder Público no município de Bacabal/MA como se fossem festas profanas.
No decorrer deste ano de 2014 várias festas religiosas foram abordadas por policiais na madrugada determinando que fosse encerrada por conta do horário. Essa abordagem fez com que os rituais fossem reduzidos ou acelerados (ocorre que quem determina os horários de funcionamento das festas são as entidades espirituais). Cite-se a Festa de Ogum em 15 de maio na Tenda de Umbanda São Jorge e em 04 de julho a Festa das Cinco Chagas de Cristo na Tenda Cinco Chagas de Cristo, como dois exemplos deste fato para citar apenas duas festas religiosas de tradição de mais de 30 (trinta) anos.
Há relatos ainda de terem reduzido ainda mais o ritual (realizando a festa em apenas um dia) para se adequar ao formato exigido para que fosse liberada o Alvará de Licença.
Outro fato que vem preocupando é a exigência do pagamento de taxas ainda que haja imunidade tributária aos cultos religiosos.
Registre-se que a maioria dos Terreiros assim como dos adeptos da religião de matriz africana em Bacabal/MA é formada por pessoas de baixo poder aquisitivo que mantém seus rituais mesmo com dificuldades financeiras, portanto se há necessidade de alguma adequação ao ambiente este fato deve ser ponderado, assim como o processo histórico que culminou no fato de boa parte da população afro brasileira ser pobre, posto que nosso ancestrais até bem pouco tempo foram escravizados e que não tivemos nenhum tipo de indenização, desta forma entendemos que cumpre aos poderes públicos não embaraçar o exercício dos cultos religiosos de matriz africana e ainda de protegê-los, inclusive impedindo que outros o façam, e, se for o caso, garantido condições de materialização do direito.
De todo o exposto Requer que V. Exa. no âmbito de Vossa competência tome as medidas que entender necessárias para que, administrativamente, se possa alcançar uma forma em que seja assegurado o direito a proteção à liturgia e reprodução dos rituais do Terecô no município de Bacabal/MA, que as festas religiosas possam continuar acontecendo sem serem importunadas, garantindo a liberdade de culto aos guardiões desta sabedoria e tradição religiosa milenar africana.
Termos em que,
Aguarda providências, onidayô baba.

Bacabal/MA, 11 de setembro de 2014

Firmino Inácio Fonseca Neto, Neto de Azile
Coordenador Geral do FERMA/MA

sábado, 30 de agosto de 2014

PREFEITURA DE SÃO LUIS COMEMORA O DIA MUNICIPAL DO TAMBOR DE CRIOULA



Comitê Gestor e Prefeitura Municipal de São Luis comemoram o Dia Municipal do Tambor de Crioula do Maranhão

Uma programação envolvendo a representação da sociedade civil que atua com o Tambor de Crioula e a Prefeitura Municipal de São Luis vai marcar as comemorações do Dia Municipal do Tambor de Crioula, nos dias 5 e 6 de setembro. A programação foi proposta pelo Comitê Gestor da Salvaguarda do Tambor de Crioula, com o apoio da Fundação Municipal de Cultura de São Luís (Func).
No dia 5, sexta feira, das 15h às 18h, acontecerá RODA E CONVERSA sobre a Política de Salvaguarda de bens culturais de natureza imaterial do Governo Federal e sua importância para preservação dos modos de fazer do Tambor de Crioula, na Galeria Trapiche (Avenida Vitorino Freire, s/n, Praia Grande – em frente ao Terminal da Integração). A roda de conversa contará com a participação do Prof. Dr. Sergio Ferreti da Universidade Federal do Maranhão e membro da Comissão Maranhense de Folclore; Izaurina Nunes da Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Maranhão – IPHAN; Prof. Neto de Azile, coordenador Geral do Comitê Gestor da Salvaguarda do Tambor de Crioula; José Lázaro Pereira, coordenador administrativo do Comitê Gestor da Salvaguarda do Tambor de Crioula e mestre do Tambor de Crioula Tijupá; Junior Catatau membro do Comitê Gestor da Salvaguarda do Tambor de Crioula, representante da Comissão Nacional dos Pontos de Cultura e Mestre do Tambor de Crioula Arte Nossa; e Mestre Amaral.
Na Galeria Trapiche está em exposição MOSTRA FOTOGRÁFICA PUNGA DOS HOMENS NO TAMBOR E CRIOULA dos pesquisadores Jonero Santos e Marco Aurélio. O encerramento será com roda de tambor com a apresentação do Tambor de Crioula Pai Véio, do bairro Maracujá/ Maracanã de Dona Arizete
No dia 6 de setembro, sábado, DIA MUNICIPAL DO TAMBOR DE CRIOULA, haverá a confraternização de grupos de Tambor de Crioula na Capela de São Benedito na Fábrica São Luis (Madre Deus), santo Padroeiro do Tambor de Crioula. A Capela de São Benedito foi inaugurada em 2007, quando o Tambor de Crioula foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN.. Além de roda de vários grupos de tambor de São Luis haverá procissão as 17h em homenagem ao santo padroeiro. O festejo na Capela de São Benedito é organizado por Rosa Maria Barbosa do Tambor de Crioula Turma dos Crioulos.
Durante o planejamento da comemoração, o Professor Francisco Gonçalves, Presidente, e o Coordenador de Eventos da FUNC Ribamar Moraes em reunião com representantes do Comitê Gestor da Salvaguarda do Tambor de Crioula Neto de Azile e Junior Catatau defenderam que a política de salvaguarda vai além de apresentações dos grupos, o que é de extrema relevância, entretanto, a socialização da importância do registro e esclarecimento da política de salvaguarda para a sociedade é uma forma de fortalecimento e reconhecimento da importância expressão dessa manifestação da cultura popular tradicional maranhense.


Neto de Azile
Coordenador Geral
Comitê Gestor da Salvaguarda do Tambor de Crioula
(98) 8814-9696 / (98) 8150-3001

terça-feira, 19 de agosto de 2014

MANIFESTO POLÍTICO DO CEN MA E DO FERMA EM NOME DOS POVOS E COMUNIDADES DE TRADICIONAIS DE TERREIRO DO MARANHÃO



Sou do AXÉ e MEU VOTO também É!

A política e instituições chamadas democráticas como as do Brasil tornaram-se sinônimo de desconfiança ou de confiança muito pequena ou mínima. Se analisarmos, ainda que superficialmente, há uma crise da política e podemos verificá-la quando percebermos a ruptura que há entre problemas do quais os cidadãos reclamam e clamam por solução - pobreza, violência, intolerância religiosa, homofobia, inquietação, alto custo de vida - e a capacidade que a política tem para enfrentá-los.
De várias maneiras e de vários modos falamos e ouvimos a expressão: “Ainda que o político não seja tudo, tudo é político”. É sem dúvida indiscutível que a política se faz presente em todas as esferas da nossa vida. Ainda, os problemas sociais não podem ser resolvidos, devidamente, isolados num âmbito puramente intimista e individualista, pois a política deve ter a função de benefício da sociedade tomada como um todo.
Urge que busquemos e encontremos uma prática que nos ajude a encontrar um caminho de dignificação da política. Uma vida, imprescindível, é o da comunicação da verdade, abraçando a causa e lutando pela justiça, defendendo os direitos humanos, promovendo o bem comum e optar pelos pobres e excluídos. Quem quiser fazer política deve levar esses valores como serviço, como uma caminhada motivada pela superação das situações de sofrimento que desencadeia a repressão e a injustiça social.
Uma constatação: o poder político existe em função da sociedade e não para si mesmo. Deste modo, a sociedade é a sua fonte, mas apenas se esta for concebida em sua totalidade, e nunca em fragmentos e menos ainda, se esta parte é excludente, minoritária e hegemônica. Apenas quando o poder é usado para fortalecer o poder de todos, temos um poder que serve à sociedade em vez de servir-se da sociedade.
O informe sobre o Desenvolvimento Humano 2010 do PNUD sustenta o Brasil mudou de Muito Baixo (0,493 em 1991) para Alto. No entanto, a mensagem essencial transmitida No Relatório do Desenvolvimento Humano 2013 é a de que o crescimento econômico não se traduz, por si só e automaticamente, em progressos no desenvolvimento humano. A opção por políticas em prol dos mais desfavorecidos e por investimentos significativos no reforço das capacidades dos indivíduos - com ênfase na alimentação, educação, saúde, e qualificações para o emprego – pode melhorar o acesso a um trabalho digno e proporcionar um progresso duradouro. Mais de um bilhão de pessoas vivem em condições de extrema pobreza, mais de dez milhões de crianças não conseguem chegar aos cinco anos de idade, metade da percentagem de pessoas que vivem com menos de 1,25 dólares americanos por dia. O vazio em esperança de vida é uma das desigualdades mais fundamentais.
O pragmatismo político afirma que tudo tem um preço: o eleitor, o voto, o partido, o candidato, o deputado, a lei, o projeto de lei, a vontade, as promessas eleitorais, o poder de persuasão, a vontade e o conhecimento. Por estas vias, a política passou a ser concebida como um fim e os cidadãos como meios. Conclui-se que houve uma ruptura da ética com a política.
Não interessam aos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana Comunidades de Terreiro os interesses políticos ou econômicos, a não ser enquanto têm relação com a humanização do ser humano. Por isso, afirmamos que o poder, esse poder-serviço é bom e o queremos.
Para uma política reta, os direitos humanos, nas suas múltiplas gerações, são uma questão de discussão inadiável e inevitável: lutar pela promoção dos direitos humanos é exaltar a vida e combater todas as situações de morte. Quem viola os direitos humanos promove a morte. Deste modo, devemos fazer memória da necessidade histórica e ética e fazer o seguinte compromisso: devemos assumir este conjunto de direitos como agentes da conduta pública. Consequentemente, surge também a necessidade de exigir, cobrar e reclamá-los em alto e bom tom, se não ao máximo, o seu cumprimento.
Vivemos num regime ainda com ranços monárquicos e uma governabilidade que se traduz na repartição de poderes, prerrogativas e orçamentos de Estado, onde a noção de política pública organizada, planejamento, integração e visão de longo prazo são inviabilizadas. Essa velha prática política, herdeira do colonialismo, do totalitarismo, do populismo, do racismo e outras formas de dominação e corrupção, ainda configuram uma cultura política arraigada e hegemônica que, não obstante a diversidade étnico-cultural de nosso povo, afeta diretamente uma parcela significativa da população que construiu os alicerces desta nação: os descendentes das tradições afro-brasileiras.
O descuido, descaso, indiferença, desigualdade, abandono e intolerância religiosa aos afrodescendentes e negros são “praga social” dominante do mundo atual. Deste modo, o Fórum Estadual de Religiões de Matriz Africana do Maranhão (FERMA) tem um papel desafiador em na opção pelos pobres, carentes e oprimidos, sobretudo, no que se refere ao básico da vida material; sé uma população numerosa que não têm palavra nem liberdade, pois o poder vigente negou a sua liberdade; o FERMA é um coletivo que trabalha com os que não têm nome nem registro no calendário, isto é, aos que é negada a existência.
O poder que queremos ao assumir o clamor do Povo do Axé e do Povo Negro está em melhores condições para ver a verdade da realidade e para orientar as mudanças que esta realidade requer. Esta maioria negra e afrodescendente esquecida nos leva a conhecer melhor o que somos: um país e um mundo ainda injustos e desumanos, porque nos exclui e nos marginaliza. O Estado é laico, mas sofremos intolerância religiosa, nossos terreiros são fechados, nossos tambores calados e nossa cultura demonizada.
O poder político reto deve objetivar, antes de tudo, a consecução do bem comum e a erradicação do mal comum. Tal atitude passa pela participação cidadã. E para que haja uma qualificação e incidência efetiva na mudança social, requer a existência de cidadãos críticos, criativos e cuidadosos. Levar a produzir um poder criativo a favor da justiça é um desafio que o FERMA propõe aos cidadãos e cidadãs, em recorte o povo de terreiro e a população negra no geral, que se mantém à margem do processo político.
Fomos educados que o poder não é pra nós, porque percebemos pela ação corrupta empírica que quem mais ambiciona o poder não é aquele que mais quer servir, mas o que quer impor os seus interesses particulares (partidários) sobre os interesses gerais. Nós Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro devemos ser incisivos ao afirmar que se queremos contrariar este modo de fazer essa política que qualificamos como política prepotente e excludente, isto implicará colocar em prática que o que aqui chamo de repolitização, ou seja, o exercício da política como serviço e recobrar, na cidadania, o protagonismo nas decisões que constituem a vida social. Nestes termos, o termo repolitização assume as características de assumir a realidade política transformando-a.
“Se o poder é bom, queremos o poder”. A dimensão política da religiosidade, não é outra coisa senão que a resposta dos Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro às exigências do mundo real sócio-político em que vivemos Trata-se de uma obrigação social e política da nossa religião de dar ao Povo de Axé uma esperança, de defender sua causa e de participar de seu destino.
Na tradição afro-brasileira a liderança religiosa é também uma liderança política. Isto porque na visão de mundo afro religiosa não se separa o sagrado do profano, pois se entende que tudo, absolutamente tudo é sagrado. As árvores, o solo, as águas, o vento, a chuva, o ar, todos os elementos são manifestações divinas do poderoso Olodumare, senhor da Criação e de todo o Universo, segundo as crenças africanas. Sendo assim, não haveria sentido, a partir desta cosmovisão, em separar o religioso do político, pois ambos caminhariam juntos e estão interligados.
No entanto, é a hora de mudar esse colonialismo mental. Estamos prontos e queremos mudar essa história. Na verdade, queremos construir uma nova história a partir da conscientização do povo-de-santo da importância que tem o voto consciente a partir de debates em torno do voto consciente nos Terreiros. Temos sim que ocupar os espaços políticos que nos são devidos. São espaços onde, socialmente nossas vidas são decididas. Ao abrirmos mão da política damos a outros a oportunidade de falar por nós, nem sempre a nosso favor, enquanto outros setores organizam-se e ocupam cada vez mais espaços políticos e com isso acumulam forças direcionadas a nos contrariar e oprimir. Estamos em plena campanha eleitoral, um momento de refletir muito na situação da grande maioria da população, NÓS NEGROS, sem acesso aos bens econômicos, sociais e culturais. Por todo um legado da formação histórica destes pais esta população cerceada de direitos é sufocada pela ideologia racista. Somos a maioria dos votos, logo podemos decidir a politica nacional e nos Estados.
É chegada a hora de dizermos um basta e contornarmos este problema. Com o voto consciente do povo de Axé devemos eleger pessoas de fato comprometidas com nossas causas, que falem nossa língua, entendam nossas dificuldades, compreendam nosso modo de ser e, mais importante, que estejam dispostas a serem verdadeiros guerreiros e guerreiras de nossas causas.

1) Veto ao Projeto de Lei 4.331/12 de autoria do Deputado Pastor PSC/SP que criminaliza o sacrifício de animais em rituais religiosos;
2) Aprovação imediata do Projeto de Lei 7.447/2010 que estabelece as diretrizes e objetivos para políticas públicas de desenvolvimento sustentável para os povos e comunidades tradicionais;
3) Valorização e defesa da diversidade étnico-cultural de nosso povo e cultura popular;
4) Defesa da autodeterminação dos povos para desenvolverem livremente o progresso social através das atividades econômicas, intelectuais, artísticas, científicas, religiosas, políticas, e todas as demais que forem típicas de estado soberano.
5) Aplicação da 7.716/89 – Lei de Crime Racial, Artigo 20º - Praticar, induzir ou incitar, pelos meios de comunicação social ou por publicação de qualquer natureza, a discriminação ou preconceito de raça, por religião, etnia ou procedência nacional. Assim exigimos a cassação da concessão pública de canais de TV com “programas religiosos” que desqualificam e demonizam as religiões afro-brasileiras;
6) Comprometimento e fortalecimento da Frente Parlamentar para Combate a Intolerância Religiosa na Câmara Federal e nos Estados;
7) Implantação de Programa de Habitação para Povos e Comunidades Tradicionais;
8) Projeto de Lei 4471/12, que cria regras para a apuração de mortes e lesões corporais decorrentes das ações de agentes do estado, como policiais, para dar fim aos abusos cometidos por policiais durante abordagens em favelas e periferias, protegendo nossos jovens, já que pobreza tem lugar e cor;
9) Aplicação do Artigo 24º da Lei 12.2288/10 – Estatuto da Igualdade Racial, para coibir a violência contínua do Governo (Justiça e Polícia) contra os terreiros durante seus rituais.
10) Criação de delegacia especializada em Crimes de Intolerância religiosa no Maranhão;

TERREIROS EM BACABAL - MARANHÃO CORREM RISCO

NOTA TÉCNICA Nº 001/2014
ATIVIDADE: REUNIÃO AMPLIADA COM AS COMUNIDADES TRADICIONAIS DE TERREIRO
LOCAL: BACABAL – MARANHÃO
PERÍODO: 07 e 08 de Agosto de 2014.
REALIZAÇÃO: Fórum Estadual de Religiões de Matriz Africana do Maranhão – F.E.R.MA.

1. APRESENTAÇÃO
A primeira reunião ampliada com as Comunidades Tradicionais de Terreiro do município de Bacabal, Maranhão é resultado das denúncias apresentadas por representantes desse segmento no 1º Encontro de Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana, em Codó – Maranhão, ocorrida em 19 e 20 de julho de 2014. Durante o seminário, as comunidades de terreiro denunciaram situação de intolerância religiosa implementada pela Promotoria de Justiça e pela Polícia de Bacabal – MA durante a realização das festas religiosas. Entre as situações relatadas destaca-se a obrigatoriedade de licenciamento formal para realização dos cultos definindo o horário e o nível de som emitido. As licenças além de serem tributadas expõem os líderes religiosos a orientações confusas sobre os procedimentos de adquirir, a desqualificação da identidade étnico-racial e religiosa violando direitos adquiridos nos marcos regulatório da jurisprudência brasileira para os povos e comunidades tradicionais de terreiro.
2. OBJETIVO
 Informar as comunidades tradicionais de terreiro do município de bacabal Maranhão sobre legislação vigente que assegura direitos civis;
 Coletar mais informações sobre denúncias apresentadas;
 Definir coletivamente as ações a serem realizadas.
3. MEMÓRIA DA REUNIÃO
Com a presença de 93 lideranças de comunidades tradicionais de terreiro de Bacabal – maranhão a reunião foi iniciada às 19h 40min com a palavra de acolhida do Pai Ivaldo, líder religioso da Tenda São Jorge. Pai Ivaldo entoou cântico de saudação a Umbanda e explicou o objetivo da reunião. Pai Neto de Azile, coordenador geral do Ferma apresentou a palestra Sou de Terreiro e Tenho Direitos apresentando de forma resumida a legislação que assegura a liberdade de culto que compõe o ordenamento jurídico brasileiro e nos acordos internacionais. Em seguida foi aberto espaço para manifestação da plenária. Entre muitos relatos alguns dados relevantes foram apresentados:
• Para realização dos cultos e festividades deve ser apresentada licença da delegacia para ultrapassar o horário limite de funcionamento de bares até as 24 h 00 determinado por Decreto Municipal;
• Os terreiros tem que adaptar seus espaços sagrados às exigências determinadas: duas saídas de incêndio sinalizadas, presença de extintores e de dois bombeiros para acompanhar o ritual;
• Redução e/ou desligamento do som durante os rituais.
Uma ligeira leitura dos fatos, sem embasamento profissional, nós do FERMA ENTENDEMOS CLARAMENTE QUE A QUESTÃO É LASTREADA em intolerância religiosa de claro fundamentalismo cristão evangélico de base racista. Com base no fragmento do teor da licença expedida pela 16ª Delegacia Regional de Polícia de Bacabal - Ma, assinada pelo delegado regional Carlos Alessandro Rodrigues Assis, fica claro a categorização da festa religiosa a estabelecimento festivo / comercial: “Autorizar a realização de um FESTEJO DE UMBANDA ... do Sr. Manoel Ivaldo Alves Ferreira ... nos dias 15-16-17 e 18/05/2014 ... ficando proibida a VENDA DE BEBIDA ALCÓOLICA A MENOR DE 18 ANOS ... mesmo deve ficar responsável pela segurança do local, PELO DECORO PÚBLICO...”. Determina ainda que obediência aos horários de realização do culto definido pela mesma delegacia, das 22:00h às 08:00h do dia seguinte.
Cabe aqui lembrar que em visita ao terreiro de Pai Manoel Ivaldo, foi verificado que o espaço é particular, dentro de sua própria residência e não foi detectado nenhum cômodo que se enquadre na categoria de bar. Além disso, os espaços das Comunidades Tradicionais de Terreiro, também são espaços de convivência social, ligados pelo parentesco de família religiosa impossível de ocorrer INFRAÇÕES como define a licença, não são espaços de festa profana.
O Terecô , denominação da religião africana do Maranhão no interior do Estado, tem sua ritualística baseada em cântico e dança às divindades e não é boate ou casa de show para a exigência de adequação de espaço – saídas de incêndio, extintores e banheiros químicos, da mesma forma que as igrejas cristãs.
Além de violência é um insulto a tradição a exigência da presença de dois bombeiros no culto já que estes não integram o grupo religioso.
O Terecô usa caixas de som para amplificar os cânticos litúrgicos e não para veicular música como em bares e outros espaços logo a exigência de acabar com o som é abusiva, absurda, então o toque de sinos durante as missas da catedral da cidade deve ser proibida.
Muitos outros absurdos foram relatados por suas vítimas e testemunhas, levando a decisão unânime a uma toma de posição de enfretamento a estas atrocidades fundamentalistas. Respeitamos o credo da Promotora de Justiça de Bacabal Dra. Klycia Menezes e do Comandante da Polícia Militar de Bacabal Coronel Egíde ambos evangélicos, mas repudiamos o fato desta condição embasar essa perseguição aos terreiros. A reunião foi encerrada com definição de realização do 1º Encontro de Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro de Bacabal – MA nos dias 20 e 21 de agosto, e o compromisso do FERMA em acionar sua assessoria jurídica para solução do problema.

4. ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
a) Realizar 1º Encontro de Povos de Terreiro de Bacabal na primeira semana de setembro;
b) Ato público pela Liberdade Religiosa – Sou de Terreiro com Orgulho!
b) Audiência Pública na Câmara de Vereadores de Bacabal com o convite:

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

MANIFESTO POLÍTICO DOS POVOS E COMUNIDADES DE TRADICIONAIS DE TERREIRO



MANIFESTO POLÍTICO DOS POVOS E COMUNIDADES DE TRADICIONAIS DE TERREIRO

Sou do AXÉ e MEU VOTO também É!

A política e instituições chamadas democráticas como as do Brasil tornaram-se sinônimo de desconfiança ou de confiança muito pequena ou mínima. Se analisarmos, ainda que superficialmente, há uma crise da política e podemos verificá-la quando percebermos a ruptura que há entre problemas do quais os cidadãos reclamam e clamam por solução - pobreza, violência, intolerância religiosa, homofobia, inquietação, alto custo de vida - e a capacidade que a política tem para enfrentá-los.
De várias maneiras e de vários modos falamos e ouvimos a expressão: “Ainda que o político não seja tudo, tudo é político”. É sem dúvida indiscutível que a política se faz presente em todas as esferas da nossa vida. Ainda, os problemas sociais não podem ser resolvidos, devidamente, isolados num âmbito puramente intimista e individualista, pois a política deve ter a função de benefício da sociedade tomada como um todo.
Urge que busquemos e encontremos uma prática que nos ajude a encontrar um caminho de dignificação da política. Uma vida, imprescindível, é o da comunicação da verdade, abraçando a causa e lutando pela justiça, defendendo os direitos humanos, promovendo o bem comum e optar pelos pobres e excluídos. Quem quiser fazer política deve levar esses valores como serviço, como uma caminhada motivada pela superação das situações de sofrimento que desencadeia a repressão e a injustiça social.
Uma constatação: o poder político existe em função da sociedade e não para si mesmo. Deste modo, a sociedade é a sua fonte, mas apenas se esta for concebida em sua totalidade, e nunca em fragmentos e menos ainda, se esta parte é excludente, minoritária e hegemônica. Apenas quando o poder é usado para fortalecer o poder de todos, temos um poder que serve à sociedade em vez de servir-se da sociedade.
O informe sobre o Desenvolvimento Humano 2010 do PNUD sustenta o Brasil mudou de Muito Baixo (0,493 em 1991) para Alto. No entanto, a mensagem essencial transmitida No Relatório do Desenvolvimento Humano 2013 é a de que o crescimento econômico não se traduz, por si só e automaticamente, em progressos no desenvolvimento humano. A opção por políticas em prol dos mais desfavorecidos e por investimentos significativos no reforço das capacidades dos indivíduos - com ênfase na alimentação, educação, saúde, e qualificações para o emprego – pode melhorar o acesso a um trabalho digno e proporcionar um progresso duradouro. Mais de um bilhão de pessoas vivem em condições de extrema pobreza, mais de dez milhões de crianças não conseguem chegar aos cinco anos de idade, metade da percentagem de pessoas que vivem com menos de 1,25 dólares americanos por dia. O vazio em esperança de vida é uma das desigualdades mais fundamentais.
O pragmatismo político afirma que tudo tem um preço: o eleitor, o voto, o partido, o candidato, o deputado, a lei, o projeto de lei, a vontade, as promessas eleitorais, o poder de persuasão, a vontade e o conhecimento. Por estas vias, a política passou a ser concebida como um fim e os cidadãos como meios. Conclui-se que houve uma ruptura da ética com a política.
Não interessam aos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana Comunidades de Terreiro os interesses políticos ou econômicos, a não ser enquanto têm relação com a humanização do ser humano. Por isso, afirmamos que o poder, esse poder-serviço é bom e o queremos.
Para uma política reta, os direitos humanos, nas suas múltiplas gerações, são uma questão de discussão inadiável e inevitável: lutar pela promoção dos direitos humanos é exaltar a vida e combater todas as situações de morte. Quem viola os direitos humanos promove a morte. Deste modo, devemos fazer memória da necessidade histórica e ética e fazer o seguinte compromisso: devemos assumir este conjunto de direitos como agentes da conduta pública. Consequentemente, surge também a necessidade de exigir, cobrar e reclamá-los em alto e bom tom, se não ao máximo, o seu cumprimento.
Vivemos num regime ainda com ranços monárquicos e uma governabilidade que se traduz na repartição de poderes, prerrogativas e orçamentos de Estado, onde a noção de política pública organizada, planejamento, integração e visão de longo prazo são inviabilizadas. Essa velha prática política, herdeira do colonialismo, do totalitarismo, do populismo, do racismo e outras formas de dominação e corrupção, ainda configuram uma cultura política arraigada e hegemônica que, não obstante a diversidade étnico-cultural de nosso povo, afeta diretamente uma parcela significativa da população que construiu os alicerces desta nação: os descendentes das tradições afro-brasileiras.
O descuido, descaso, indiferença, desigualdade, abandono e intolerância religiosa aos afrodescendentes e negros são “praga social” dominante do mundo atual. Deste modo, o Fórum Estadual de Religiões de Matriz Africana do Maranhão (FERMA) e o Fórum Estadual de Matriz Africana do Piauí (FERMAPI) tem um papel desafiador em na opção pelos pobres, carentes e oprimidos, sobretudo, no que se refere ao básico da vida material; sé uma população numerosa que não têm palavra nem liberdade, pois o poder vigente negou a sua liberdade; o FERMA e FERMAPI são coletivos que trabalham com os que não têm nome nem registro no calendário, isto é, aos que é negada a existência.
O poder que queremos ao assumir o clamor do Povo do Axé e do Povo Negro está em melhores condições para ver a verdade da realidade e para orientar as mudanças que esta realidade requer. Esta maioria negra e afrodescendente esquecida nos leva a conhecer melhor o que somos: um país e um mundo ainda injustos e desumanos, porque nos exclui e nos marginaliza. O Estado é laico, mas sofremos intolerância religiosa, nossos terreiros são fechados, nossos tambores calados e nossa cultura demonizada.
O poder político reto deve objetivar, antes de tudo, a consecução do bem comum e a erradicação do mal comum. Tal atitude passa pela participação cidadã. E para que haja uma qualificação e incidência efetiva na mudança social, requer a existência de cidadãos críticos, criativos e cuidadosos. Levar a produzir um poder criativo a favor da justiça é um desafio que o FERMA e o FERMAPI propõe aos cidadãos e cidadãs, em recorte o povo de terreiro e a população negra no geral, que se mantém à margem do processo político.
Fomos educados que o poder não é pra nós, porque percebemos pela ação corrupta empírica que quem mais ambiciona o poder não é aquele que mais quer servir, mas o que quer impor os seus interesses particulares (partidários) sobre os interesses gerais. Nós Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro devemos ser incisivos ao afirmar que se queremos contrariar este modo de fazer essa política que qualificamos como política prepotente e excludente, isto implicará colocar em prática que o que aqui chamo de repolitização, ou seja, o exercício da política como serviço e recobrar, na cidadania, o protagonismo nas decisões que constituem a vida social. Nestes termos, o termo repolitização assume as características de assumir a realidade política transformando-a.
“Se o poder é bom, queremos o poder”. A dimensão política da religiosidade, não é outra coisa senão que a resposta dos Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro às exigências do mundo real sócio-político em que vivemos Trata-se de uma obrigação social e política da nossa religião de dar ao Povo de Axé uma esperança, de defender sua causa e de participar de seu destino.
Na tradição afro-brasileira a liderança religiosa é também uma liderança política. Isto porque na visão de mundo afro religiosa não se separa o sagrado do profano, pois se entende que tudo, absolutamente tudo é sagrado. As árvores, o solo, as águas, o vento, a chuva, o ar, todos os elementos são manifestações divinas do poderoso Olodumare, senhor da Criação e de todo o Universo, segundo as crenças africanas. Sendo assim, não haveria sentido, a partir desta cosmovisão, em separar o religioso do político, pois ambos caminhariam juntos e estão interligados.
No entanto, é a hora de mudar esse colonialismo mental. Estamos prontos e queremos mudar essa história. Na verdade, queremos construir uma nova história a partir da conscientização do povo-de-santo da importância que tem o voto consciente a partir de debates em torno do voto consciente nos Terreiros. Temos sim que ocupar os espaços políticos que nos são devidos. São espaços onde, socialmente nossas vidas são decididas. Ao abrirmos mão da política damos a outros a oportunidade de falar por nós, nem sempre a nosso favor, enquanto outros setores organizam-se e ocupam cada vez mais espaços políticos e com isso acumulam forças direcionadas a nos contrariar e oprimir. Estamos em plena campanha eleitoral, um momento de refletir muito na situação da grande maioria da população, NÓS NEGROS, sem acesso aos bens econômicos, sociais e culturais. Por todo um legado da formação histórica destes pais esta população cerceada de direitos é sufocada pela ideologia racista. Somos a maioria dos votos, logo podemos decidir a politica nacional e nos Estados.
É chegada a hora de dizermos um basta e contornarmos este problema. Com o voto consciente do povo de Axé devemos eleger pessoas de fato comprometidas com nossas causas, que falem nossa língua, entendam nossas dificuldades, compreendam nosso modo de ser e, mais importante, que estejam dispostas a serem verdadeiros guerreiros e guerreiras de nossas causas.

1) Veto ao Projeto de Lei 4.331/12 de autoria do Deputado Pastor PSC/SP que criminaliza o sacrifício de animais em rituais religiosos;
2) Aprovação imediata do Projeto de Lei 7.447/2010 que estabelece as diretrizes e objetivos para políticas públicas de desenvolvimento sustentável para os povos e comunidades tradicionais;
3) Valorização e defesa da diversidade étnico-cultural de nosso povo e cultura popular;
4) Defesa da autodeterminação dos povos para desenvolverem livremente o progresso social através das atividades econômicas, intelectuais, artísticas, científicas, religiosas, políticas, e todas as demais que forem típicas de estado soberano.
5) Aplicação da 7.716/89 – Lei de Crime Racial, Artigo 20º - Praticar, induzir ou incitar, pelos meios de comunicação social ou por publicação de qualquer natureza, a discriminação ou preconceito de raça, por religião, etnia ou procedência nacional. Assim exigimos a cassação da concessão pública de canais de TV com “programas religiosos” que desqualificam e demonizam as religiões afro-brasileiras;
6) Comprometimento e fortalecimento da Frente Parlamentar para Combate a Intolerância Religiosa na Câmara Federal e nos Estados;
7) Implantação de Programa de Habitação para Povos e Comunidades Tradicionais;
8) Projeto de Lei 4471/12, que cria regras para a apuração de mortes e lesões corporais decorrentes das ações de agentes do estado, como policiais, para dar fim aos abusos cometidos por policiais durante abordagens em favelas e periferias, protegendo nossos jovens, já que pobreza tem lugar e cor;
9) Aplicação efetiva do Artigo 24º da Lei 12.2288/10 – Estatuto da Igualdade Racial, para coibir a violência contínua do Governo (Justiça e Polícia) contra os terreiros durante seus rituais.

Brasil, agosto de 2014
Somos de Axé e nosso Voto também

Pai Neto de Azile
Vodunsi-hê Idanbelhah Sakpatasi
Fórum Estadual de Religiões de Matriz Africana do Maranhão FERMA
Coordenador Estadual

Pai Heraldo de Lissá
Vodunsi-hê Alabyiodãn Lissási
Fórum Estadual de Religiões de Matriz Africana do Piauí FERMAPI
Coordenador Estadual

sexta-feira, 18 de julho de 2014

REUNIÃO AMPLIADA PARA CONSTRUÇÃO DO PLANO SETORIAL PARA CULTURAS AFROBRASILEIRAS



Povo negro maranhense que faz e é cultura!

Temos a grata satisfação de convidar-lhe para participar da Reunião ampliada para Construção do Plano Setorial para a Cultura Afro-Brasileira. O objetivo é ouvir todos os produtores e artistas negros tradicionais e populares para propor políticas públicas culturas específicas para a população afrodescendente e para todas as formas de expressão cultural do povo negro em nosso Estado. Cabe ressaltar sendo o Maranhão diverso em seus modos de ser e fazer é de extrema relevância a participação de todos (tambor de crioula, zabumba meu boi de zabumba, caixeiras do divino, grupos de cacuriá, pontos de cultura, povos e comunidades de terreiro, capoeira, linguagens artísticas urbanas: hip hpo. street dance, grafitagem etc, blocos tradicionais, grupos tradicionais de samba de rais: fuzileiros da fuzarca, baile de caixa dos quilombos, artesãos, cantores e cantoras, movimento reggae todo esse universo negro maranhense.
SERVIÇO:
Dia: 18 de julho, sexta feira
HORA: 14 HORAS
LOCAL: Auditório da Fundação Cultural Palmares Regional Maranhão / Piauí
ENDEREÇO: Rua das Hortas, 223 - Centro. Prédio do CNPT
Referência: Pça Odorico Mendes (Rua Rio Branco - São Luis - Ma)
Neto de Azile
98 8814 9696

sábado, 12 de julho de 2014

COMUNIDADES TRADICIONAIS DE TERREIRO SÃO ALVO DE RECONHECIMENTO E VISIBILIDADE NO MARANHÃO.


COMUNIDADES TRADICIONAIS DE TERREIRO SÃO ALVO DE RECONHECIMENTO E VISIBILIDADE NO MARANHÃO.
Autor: Pai Neto de Azile
Sacerdote Afro-religioso, Geógrafo,
Professor, Ativista de Direitos Humanos
Diretor Geral do Fórum Estadual de Religiões de Matriz Africana do Maranhão - FERMA


O Brasil é um país profundamente marcado pelo racismo. Elemento estruturante da formação social brasileira, fundado na escravidão a que foram submetidos cerca de cinco milhões de africanos e africanas durante mais de 300 anos, entre o início da colonização e meados do século XIX. No período republicano, o racismo foi reforçado, de forma perversa e dissimulada, pelo mito da democracia racial, baseada no elogio à miscigenação e ao branqueamento da população brasileira, postulados pelas elites herdeiras da escravidão desde as primeiras iniciativas de promover a imigração europeia. A República, até bem pouco tempo, ignorou negros e negras como sujeitos de cidadania, mantendo-os na mais completa exclusão social, discriminando suas manifestações culturais e criminalizando qualquer forma de resistência.
Escravidão e racismo estão, portanto, na origem das profundas desigualdades socioeconômicas entre brancos e negros, ainda hoje, passados 120 anos da abolição do sistema escravista. Em face dessa omissão histórica do Estado brasileiro, frente às desigualdades raciais e étnicas, tanto materiais como simbólicas, a cor negra acabou por se estabelecer como um fator de desvantagem na garantia de direitos. De fato, e em que pesem os significativos avanços da Política de Promoção Racial do Brasil nos últimos 15 anos, sobretudo após a Conferência de Durban (2001), ainda há um longo caminho a percorrer para a superação do racismo e a conquista da igualdade racial no país.
Nos últimos anos, inegavelmente, assistimos o Brasil dar um salto qualitativo, pelo menos nos campos jurídico-constitucional e político, visando combater as desigualdades étnico-raciais, em cumprimento aos acordos internacionais assumidos, principalmente, nas questões de combate ao racismo. No centro das discussões encontram-se majoritariamente, segmentos populacionais tidos como minoritários destacando-se os Povos e Comunidades Tradicionais conformem definição do Decreto 6.040/2007 que institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Povos e Comunidades Tradicionais – PNPCT. Conforme concepção adotada pela PNPCT os povos e comunidades tradicionais são “grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição”. Nesse conjunto inserem-se os Povos Tradicionais de Terreiro.
A PNPCT pretende criar condições para a reversão da situação de exclusão social, a preservação da diferença cultural desses grupos, retirando-os da invisibilidade e trazendo-os para o campo dos direitos através do incentivo ao exercício da cidadania como instrumento para o empoderamento desses grupos.
Os Terreiros são espaços sociais de práticas de afro-religiosas, entretanto não são apenas locais de culto, mas também instrumentos de luta contra o preconceito e combate à desigualdade racial. Cabe ainda ressaltar que os terreiros, em sua maioria, estão localizados em áreas de vulnerabilidade social e constituídos por uma população majoritariamente negra. Nesse cenário as casas tradicionais de terreiro, constituem-se, de fato, como territórios tradicionais de comunidades negras, mantendo intensas relações de solidariedade com o seu entorno, desenvolvendo estratégias de enfrentamento coletivo da vulnerabilidade social. Os terreiros tem um potencial transformador, pois são polos de atendimento e de prestação de serviços às comunidades a eles relacionadas.
O Estado do Maranhão, segundo os dados do realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, ocupa a segunda posição de contingente populacional autodeclarada preta e parda do país (Censo de 2010). No Maranhão a expressão religiosa dos negros escravizados é representada pelo Tambor de Mina, pela Umbanda, pelo Terecô, pela Pajelança e pelo Candomblé com pouca ocorrência no Estado. Estima-se que Maranhão conta hoje com cerca de 3.000 (três mil) terreiros, dos quais um terço se concentra na capital São Luis.
Os Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro representam, atualmente, a memória viva das sociedades tradicionais africanas e salvaguardam a afro descendência brasileira, desde o zelo e respeito pela natureza, base da religiosidade, até a culinária, valores, princípios, hierarquia, língua, estética, indumentárias, etc. Apesar de ter assegurado os seus direitos pela Constituição Federal, os Povos Comunidades Tradicionais de Terreiro devem ter políticas de desenvolvimento diferenciadas por se tratar do mais importante modelo de quilombo vivo da contemporaneidade, guardião da história de resistência daqueles que ajudaram a construir o Brasil.
As questões étnicas, culturais e religiosas de discriminação e exclusão têm perpetuado o genocídio social e cultural implantado pela escravidão. Surge a necessidade de repensar as ações de combate à discriminação, que sejam capazes de, em todas as esferas, cumprir com compromissos assumidos, principalmente nos extratos sociais onde a questão da sobrevivência diária dentro da comunidade faz com que todos realmente se considerem iguais, libertos de discriminação como nos quilombos que independente de suas convicções particulares, dividem a realidade de um coletivo. Essa é a realidade dos Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiros.
No conjunto da sociedade brasileira que ao mesmo tempo exerce o direito constitucional de livre expressão da religiosidade e liberdade de culto, considerando o Brasil um Estado laico, os Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro vivem a mercê de um massivo projeto de desqualificação, desrespeito, desmoralização, velada ou declarada, por professar seu credo, sua fé, que são à base do seu ordenamento político, social e econômico. A todo o momento, têm-se notícias de situações de agressão e discriminação fragilizando a identidade cultural e étnico-religiosa das comunidades tradicionais de terreiro interferindo na autoestima e no sentido de pertença de um povo. Esse desrespeito histórico aos seus direitos sociais básicos e a falta de acesso às políticas públicas explicam a precariedade das condições de vida em que estas comunidades vivem atualmente. É neste cenário que tem início a construção do 1º Plano Estadual de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana – Povos e Comunidades de Terreiro do Estado do Maranhão (PEPCTMA).
O plano tem como principal objetivo é promover o reconhecimento, fortalecimento, bem como garantir direitos territoriais, sociais, ambientais, econômicos e culturais com base na identidade e nas formas de organização destes povos.
No último dia 10 de julho de 2014,por iniciativa da Secretaria de Estado Extraordinária de Igualdade Racial do Estado do Maranhão – SEIR foi realizada a primeira reunião de trabalho da Comissão de Elaboração do PEPCTMA com a participação de representantes das comunidades: Fórum Estadual de Religiões de Matriz Africana do Maranhão – FERMA, Coletivo de Entidades Negras – CEN, Rede Nacional de Religiões Afro-brasileiras e Saúde – RENAFRO/MA, Fórum Estadual Mulheres de Axé; e de representantes do Poder Público: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, Secretarias de Estado da Educação, Segurança Pública, Direitos Humanos e Cidadania, Desenvolvimento Social e Secretaria Municipal de Saúde. Compõem ainda a Comissão: Federação de Umbanda e Cultos Afro-brasileiros do Maranhão, Secretaria de Estado da Cultura até o momento.
A função dessa Comissão, além de sistematizar o plano recolhera dados mais precisos sobre as comunidades de terreiro de todo o estado do Maranhão. Para professora Claudett Ribeiro, Secretária de Estado Extraordinária de Igualdade Racial “é um momento de realização, pois há muito a SEIR vem tentando implementar esta ação e agora com os parceiros é um fato real” e emocionada manifestou um sentimento de realização. Mãe Luza de Oxum, Coordenadora da RENAFRO NO Maranhão, disse que “a angustia de ver o Estado fora desse processo nacional estava dando sinais que iria reduzir”. Pai Neto de Azile, do FERMA e do CEN ponderou que o Plano, a exemplo do plano nacional, será um instrumento local de luta contra o preconceito e a intolerância religiosa que cerceia direitos civis do povo de santo. A previsão para o lançamento do plano é novembro deste ano durante sendo um marco de operativo de ação pratica para aplicação de políticas públicas para os povos de terreiro, segundo a Secretária de Estado Adjunta de Igualdade Racial do Maranhão Benígna Regina

Será que no Maranhão VALE FESTEJAR mesmo?


A oligarquia cultural, a lagoa e o vale festejar.

Por: Junior Catatau (músico, coreiro, boieiro, professor, membro da comissão nacional dos pontos de cultura, membro do comitê de salvaguarda do tambor de crioula)

Em manifesto passado expressamos publicamente a nossa indignação da maneira como vem sendo conduzida a formação da programação cultural do São João do Maranhão sem a mínima participação de setores organizados do movimento cultural. Hoje queremos aqui continuar a denunciar o que para nós representa de fato uma exclusão das brincadeiras tradicionais da cultura popular como o tambor de crioula e o boi de zabumba. Comecemos pela programação do arraial oligárquico show montando para a classe média, para lá mandaram apenas um grupo de tambor de crioula e apenas um boi de zabumba, o mais ridículo é que no dia da chamada nacional do programa globista sequer apareceu alguma brincadeira maranhense, o que mostra que a oligarquia tem vergonha da cultura local, apenas se aproximou dela por questões políticas. Para piorar a situação no geral na programação da Secma acontece agora um esconde..esconde.. desaparece....desaparece...tem grupo cultural que sequer conseguiu sair de sua sede porque “do nada” desapareceu as suas apresentações, isso vem acontecendo faz tempo, lembremos do caso da Divina Batucada e de outros grupos que tiveram da noite para o dia as suas apresentações suspensas porque são independentes falam o que pensam. A situação tá tão humilhante que no tal Vale Festejar das aproximadamente 120 apresentações culturais com o apoio da Empresa Vale e da Lei Nacional de Incentivo Cultural apenas quatro grupos de tambor de crioula foram “convidados” de resto a programação foi rateada entre alguns grupos culturais que se julgam os melhores porque seus padrinhos políticos assim o dizem. Pois é, assim vai terminando a péssima gestão da oligarquia cultural: sumiram os editais, vários grupos excluídos, uma péssima programação de uma semana, um enorme palanque para os shows culturais importados para a classe média e nós aqui na senzala, e o pior é que alguns adentraram a casa grande e se voltam contra nós, mas a nossa luta continuará e venceremos, a oligarquia já era, já vai tarde. Só esperamos que no processo de transição, de mudança e de transformação do poder que a história não se repita como farsa. Xô oligarquia cultural !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

sábado, 21 de junho de 2014

NOTA DE REPÚDIO: NO TERREIRO DE MARIA FALTOU OS TAMBORES DE CRIOULA DO MARANHÃO




Se devemos considerar que a FUNC avançou quando se propôs a elaborar sua programação de São João por meio de edital que selecionou as brincadeiras juninas, o mesmo não aconteceu com a distribuição dos 30 grupos de tambor de crioula na grade de programação do arraial da Maria Aragão em 2014. Se em anos anteriores se via pelo menos um tambor de crioula por noite e no dia nacional do tambor de crioula vários grupos na praça, este ano para nossa surpresa apenas alguns grupos compuseram a programa cultural do evento batizado de Terreiro da Maria. O mais contraditório é um terreiro sem tambor de crioula, mas já não sabemos o que se passa pela cabeça dos nossos atuais produtores culturais. E claro para quem acha que talvez isso não seja nada, vejamos o seguinte: muitos grupos de tambor de crioula tem as vezes a oportunidade única de mostrar o seu trabalho exatamente no São João que acontece apenas uma vez no ano. A concorrência frente a outras brincadeiras chega a ser desleal, enquanto vemos por exemplo a ascensão cada vez mais de grupos alternativos, os grupos tradicionais tanto de tambor de crioula como de boi de zabumba dependem em muito das ações do poder público já que não possuem um poder midiático e muito menos estão atrelados aos grandes padrinhos políticos coronéis da produção cultural no Maranhão. Não manter pelo menos 15 grupos na grade oficial de apresentação na Maria Aragão foi um ato de desrespeito de quem não conhece a cultura popular e o pior desconsidera que hoje o tambor de crioula é patrimônio imaterial do Brasil. Neste sentido, fazemos um pedido ao atual presidente da FUNC que reveja em sua equipe que está a fazer isso com o tambor de crioula. Caso isso continue a acontecer teremos sérios problemas em dialogar com o poder público municipal, nós não acreditamos que as mudanças venham exatamente acontecer para prejudicar os segmentos da cultura popular historicamente excluídos como o tambor de crioula. Por tudo isso, torno público aqui a minha indignação como a falta de transparência e diálogo da FUNC com o comitê gestor de salva guarda do Tambor de Crioula que este ano em momento nenhum foi chamado para dialogar e contribuir já que possui experiência, talvez assim poderíamos evitar mais este desgaste que gera na mente de muitos e muitos tambozeiros a imagem de que está em execução mais uma forma de exclusão cultural e social, afinal também temos o direito de participar da festança municipal no Terreiro da Maria Aragão. Neste sentido alertamos: Acorda Chico Gonçalves ! Acorda Prefeito! Respeitem o Tambor de Crioula do Maranhão! Respeitem a Cultura Popular!

José Antonio Pinheiro Junior (Catatau)

Tambozeiro, musico, coreiro e boiero

Professor do IFMA

Mestrando em Cultura e Sociedade na UFMA

Membro da Comissão Nacional dos Pontos de Cultura do Brasil

Membro do Comitê de Salva Guarda do Tambor de Crioula do Maranhão