COMUNIDADE QUILOMBOLA RAMAL DE QUINDÍUA
No desenvolvimento integral do indivíduo, do ser humano, a fase da primeira infância (0 a 6 anos de idade) é a base de todas as aprendizagens humanas. Estudos demonstram que a qualidade de vida de uma criança entre o nascimento e os seis anos de idade pode determinar as contribuições que ela trará à sociedade quando adulta. Se este período incluir suporte para o crescimento cognitivo, desenvolvimento da linguagem, habilidades motoras, adaptativas e aspectos sócio-emocionais, a criança terá uma vida escolar bem-sucedida e relações sociais fortalecidas. Aliado à boa alimentação, o estímulo adequado às crianças de até 6 anos gera benefícios que vão desde o aumento de aptidão intelectual (que qualifica o acompanhamento escolar e diminui os índices de repetência e de evasão escolar) até a formação de adultos preparados para aprender a lidar com os desafios do cotidiano. Em sua primeira palestra no Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância, o Dr. Jack Shonkoff, diretor do Center on the Developing Child (CDC), da Universidade de Harvard, explicou o conceito de "Stress Tóxico", uma expressão cunhada pelo próprio CDC para definir o tipo de stress que prejudica a construção do sistema neuronal da criança. Dr. Shonkoff lembrou que o stress faz parte da vida, e aprender a lidar com ele é uma etapa importante do desenvolvimento saudável da criança. É o stress que ela passa ao conhecer uma nova pessoa, ao aprender a andar e ao enfrentar os problemas cotidianos, tais como perder a chupeta ou sentir algum desconforto.
Quando um bebê passa por uma situação de stress, mas ele está cercado por um ambiente de proteção por parte dos adultos, as reações fisiológicas são amenizadas e voltam rapidamente aos seus níveis normais. O resultado é uma resposta saudável ao stress porque o bebê entende que as situações estressantes existem, mas ele conta com o apoio dos adultos que estão próximos e vão ajudá-lo a solucionar o problema. Para algumas situações de stress mais duradouras - tais como a morte ou uma doença grave de algum ente querido, o divórcio dos pais, um ferimento mais sério ou um desastre natural - as reações fisiológicas permanecem por um período mais longo.
Chama-se de Stress Tóxico àquelas situações nas quais a criança fica exposta a estímulos extremos de stress, de forma prolongada e renitente, sem contar com o apoio de um adulto que a proteja. Essas situações podem incluir a pobreza extrema, abuso físico ou emocional, negligência crônica, depressão profunda da mãe, abuso de substâncias e violência na família. Portanto, a exposição ao Stress Tóxico compromete a construção do cérebro do bebê, o que prejudicará as atividades cognitivas, sociais, emocionais e motora, além de incrementar a possibilidade de que, no futuro, venha a sofrer com diversos tipos de doença. Mesmo assim, o apoio protetor do relacionamento com um adulto permite que o cérebro se recupere do que poderia vir a representar um dano maior.
Considerando que a realidade da maioria das comunidades quilombolas é marcada pela vulnerabilidade socioeconômica e a baixa qualidade de vida o que dificulta o pleno desenvolvimento social o que influência nos cuidados com as crianças, em especial as que se encontram na faixa etária da primeira infância, fase crítica na formação do indivíduo foi realizada de 24 a 29 de novembro de 2013, no município de Bequimão – Maranhão, a 1ª Semana do Bebê Quilombola, que teve como meta principal a busca de meios de garantir o direito a sobrevivência e ao desenvolvimento de crianças de até 06 anos de idade a partir do fortalecimento, preservação e promoção dos saberes tradicionais que fazem parte da identidade negra quilombola. A atividade foi realizada nas comunidades de Santa Rita, Rio Grande, Arquipá, Ramal do Quindíua, Pericumã, Marajá, Conceição, Mafra, Sibéria e Juraraitá, todas já certificadas pela Fundação Palmares como remanescentes de quilombos.
A 1ª Semana do Bebê Quilombola do município de Bequimão - MA foi a primeira experiência no Brasil, neste formato. As diretrizes referenciais do trabalho foram definidas como cinco fortalezas a serem potencializadas a partir de troca efetiva de saberes: 1 – A importância da 1ª infância no desenvolvimento integral do indivíduo; 2 – Saberes tradicionais das parteiras; 3 - Identidade e território; 4 – Protagonismo da Mulher quilombola e 5 – Ancestralidade e Memória. Estas fortalezas são inerentes à historicidade sócio-cultural do negro brasileiro, em especial dos remanescentes de quilombo nas suas formas próprias de organização, seus códigos de valores e conduta e cosmovisão.