terça-feira, 12 de abril de 2011

OAB entra com representação contra Jair Bolsonaro pelos crimes de racismo e homofobia


Deputados de três partidos também entraram com representação contra Bolsonaro. Na internet, defensores dos movimentos negros e LGBT criaram petição para pedir a cassação do mandato do deputado do PP.


Redação ÉPOCA, com Agência Brasil


A Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro (OAB-RJ) entrou nesta quarta-feira (30) com um processo contra o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) após ele ter feito um comentário de teor racista em um programa de televisão. A Ordem apresentou à Mesa Diretora da Câmara uma representação de sete páginas em que acusa o deputado pelos crimes de racismo e homofobia.



Bolsonaro é acusado por ter respondido a uma pergunta feita pela cantora Preta Gil, filha do ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, com tom racista. Ao ser questionado sobre como reagiria caso seu filho namorasse uma negra, Bolsonaro respondeu: “Não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Não corro esse risco porque os meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambientes como lamentavelmente é o teu (de Preta Gil)”.



Tentando contornar a gafe, Bolsonaro acabou piorando sua situação ao se justificar dizendo que tinha entendido que Preta Gil lhe perguntara se seu filho namoraria outro homem, o que ele considera impossível. A comunidade LGBT reagiu, e, na tarde de quarta, Bolsonaro voltou a inflamar a discussão ao afirmar, durante o velório do ex-vice-presidente José Alencar, que está se “lixando” para o movimento gay.



"Estou me lixando para o movimento gay. O que eles têm para oferecer? Casamento gay? Adoção de filho por gay? Nada disso acrescenta nada", disse Bolsonaro. O parlamentar afirmou também não ter medo da ação de seus adversários. "Soldado que vai a guerra e tem medo de morrer é covarde".


Já no final da noite de terça, três partidos (P-SOL, PCdoB e PDT) também haviam protocolado outra representação assinada por 20 parlamentares pedindo para que a Corregedoria da Casa investigasse Bolsonaro pelos mesmos crimes - racismo e homofobia. O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), deve encaminhar uma solicitação à corregedoria.



A polêmica toda começou após o vídeo em que Bolsonaro fez as declarações ser disponibilizado na internet, o que gerou reação instantânea da sociedade, principalmente pelas redes sociais. Em resposta, internautas defensores e simpatizantes dos movimentos negros e LGBT criaram, online, petição a ser encaminhada ao Congresso pedindo a cassação do mandato de Bolsonaro. O documento, disponível no site Change, já conta com mais de 4.800 assinaturas.



Na Câmara, curiosamente, Jair Bolsonaro é membro da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, mas, de acordo com a própria presidente, deputada Manuela D’ávila (PCdoB-RS), ele não poderia ter direito de atuar na comissão uma vez que não defende os direitos humanos. Os deputados que assinaram a representação contra Bolsonaro - Manuela é uma delas - pedem que o parlamentar seja destituído, pelo próprio PP, da comissão após o escândalo.



Antes de ser convocado pelo Conselho de Ética para prestar depoimentos, Jair Bolsonaro já se adiantou e afirmou que pediria para ser chamado a fim de esclarecer a polêmica. Em nota divulgada em seu site, o deputado afirma que não tem problemas com negros, afinal, ele próprio tem vários funcionários negros trabalhando para ele.
Fonte: www.nacaoz.com.br

segunda-feira, 4 de abril de 2011

POSICIONAMENTO OFICIAL DO COLETIVO DE ENTIDADES NEGRAS SOBRE POSIÇÕES DISCRIMINATÓRIAS DE DEPUTADOS FEDERAIS – CONTRA O RACISMO, O MACHISMO A HOMOFOBI

POSICIONAMENTO OFICIAL DO COLETIVO DE ENTIDADES NEGRAS SOBRE POSIÇÕES DISCRIMINATÓRIAS DE DEPUTADOS FEDERAIS – CONTRA O RACISMO, O MACHISMO A HOMOFOBIA E TODA FORMA DE DISCRIMINAÇÃO

O dia 21 de março é data internacional, homologada pelas Organizações das Nações Unidas (ONU), como o Dia Internacional de Luta Contra a Discriminação Racial e o ano de 2011 foi definido pela mesma ONU como o Ano Internacional para Descendentes de Africanos.

Coincidentemente, o mês de março foi marcado por três posições discriminatórias de parlamentares brasileiros, altamente ofensivas à população negra, em particular e também às mulheres e homossexuais.

No dia 22 de março, o deputado federal Júlio Campos, do DEM/MT, provocou constrangimento ao criticar a eficácia do foro especial destinado a autoridades públicar ao dizer: “Essa história de foro privilegiado não dá em nada. O nosso Ronaldo Cunha Lima [ex-deputado e ex-governador da Paraíba] precisou ter a coragem de renunciar ao cargo para não sair daqui algemado, e, depois, você cai nas mãos daquele moreno escuro lá no Supremo, aí, já viu”, afirmou Campos.

Logo depois, o deputado federal Jair Bolsonaro (PP/RJ) deu uma entrevista ao programa CQC onde, questionado pela cantora Preta Gil, o que faria caso um filho seu se apaixonasse por uma mulher negra respondeu textualmente: "Ô Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. Meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambiente como, lamentavelmente, é o teu", respondeu. Quando indagado sobre as cotas, que ele e seus dois filhos, também parlamentares no Rio de Janeiro, atuam frontalmente contrários, respondeu: "Eu não entraria em um avião pilotado por um cotista nem aceitaria ser operado por um médico cotista”.

Mas foi ao se defender da repercussão imediata de sua participação no programa, principalmente às questões ligadas a racismo, por conta da resposta a Preta Gil que Bolsonaro conseguiu mostrar-se mais preconceituoso ainda. Ao afirmar que havia entendido que a pergunta se referia a um filho seu ser homossexual, ele afirmou: O homem é produto do meio, imagina se pega essa lei, permitindo que casais homossexuais adotem crianças? Vão fazer reserva de mercado para jovens garotos homossexuais. O filho vai crescer vendo a mãe bigoduda ou careca, o pai andando de calcinha ou a mãe de cueca.

Para fechar com chave de ouro o deputado federal Pastor Marco Feliciano (PSC-SP) publicou em seu Twitter que "sobre o continente africano repousa a maldição do paganismo, ocultismo, misérias, doenças oriundas de lá: ebola, aids. Fome". E continuou: "A maldição que Noé lança sobre seu neto, Canaã, respinga sobre o continente africano, daí a fome, pestes, doenças, guerras étnicas!". Segundo o deputado, a Bíblia sustenta a teoria de que o continente africano foi amaldiçoado. O parlamentar afirma que, pela Bíblia, Cam, filho de Noé, "vê a nudez do pai" em um momento de embriaguez de Noé e ri. Quando Noé volta em si, ele chama Cam e seu neto Canaã e joga uma maldição sobre o neto, que, posteriormente seria o responsável por povoar o continente africano.

Em entrevista, o deputado reafirmou as frases colocadas na rede social. Ele afirmou que tudo isso é um "ensinamento teológico avançado". Feliciano nega que seja racista e diz que "ora pela África". "O problema do continente africano é espiritual e se vence com oração. Isso poderia ter acontecido com outro continente, mas foi lá. Eu apenas citei um texto que é teológico para quem quiser aprender. O resto é maldade das pessoas".

A polêmica relativa à Àfrica não é a única da página do parlamentar na rede social. Feliciano faz também ataques a homossexuais. "A podridão dos sentimentos dos homoafetivos levam ao ódio, ao crime, a rejeição", diz ele em um dos posts.

O Coletivo de Entidades Negras (CEN), organização nacional do Movimento Negro vem a público repudiar as falas dos parlamentares e afirmar que entende cada uma delas como altamente racistas, homofóbicas, machistas e que defende publicamente a cassação dos mantados dos parlamentares.
Para nós, do CEN, o direito a opinião e livre expressão é patrimônio fundamental da democracia brasileira, mas entendemos, também, que cada pessoa é responsável pela opinião que emite e deve pagar o preço do que fala e do pensamento que expõe.
Ao demonstrarem em suas falas ações e práticas discriminatórias, entendemos que estes parlamentares atuam como porta-vozes de setores da sociedade brasileira que a cada dia tornam-se mais descontentes com a mudança do status quo da sociedade brasileira com a ascensão das mulheres e negros às posições de poder – ainda que tímidas, algumas vezes.
Entendemos que nunca, em qualquer situação, um deputado se refereria a um Ministro do Supremo, como “aquele branquinho, aquele clarinho, ou branco azedo”, sem que isso soasse como desrespeito e discriminação. Não podemos aceitar que um parlamentar se arvore defensor de valores familiares retrógrados discrimine e ataque em rede nacional uma jovem artista, simplesmente porque ela tem um modo de vida diferente do seu; e, por fim, entendemos que quando um pastor afirma que uma maldição paira sobre a África, este parlamentar está simplesmente afirmando nossa tese de que intolerância religiosa e racismo caminham lado a lado.
Relembrando a frase de Jomo Keniatta, um dos grandes líderes das lutas contra o domínio europeu sobre a África, que afirmou que "Quando os missionários chegaram, os africanos tinham a terra e os missionários tinham a Bíblia. Eles nos ensinaram a rezar de olhos fechados. Quando nós os abrimos, eles tinham a terra e nós tínhamos a Bíblia", temos a plena convicção que um dos maiores problemas da África hoje é o roubo de sua identidade cultural a partir da evangelização forçada e da verdadeira lavagem cerebral que foi e ainda é praticada por grupos cristãos naquele país com o simples objetivo de não mais se apropriar das terras, mas sim, de arrecadar fundos financeiros de um povo já sufocado pela miséria e pelas guerras. E afirmamos que o mesmo que ocorre lá, também ocorre aqui no Brasi, quando vemos homens e mulheres negros evangélicos, renegarem sua origem africana, seus valores ancestrais e a religiosidade de matriz africana, como algo que os envergonha, ou os coloca num segundo plano, assimilando assim, o que é imposto em suas mentes por visões preconceituosas e distorcidas de pastores e evangelistas.
O Coletivo de Entidades Negras entende que a democracia brasileira precisa se aperfeiçoar a cada dia e que devemos, como cidadãos e com sociedade civil organizada, propor ações que dificultem o acesso ao parlamento de setores que trazem em si a defesa de pensamentos que são contrário ao que está propugnado na Contituição Federal da República, uma vez que é a constituição que agrega em torno de si o pensamento do povo brasileiro enquanto nação. E é esta constituição que afirma a liberdade de culto e a não discriminação de qualquer tipo.
Ao infringir esta constituição, de forma sutil, velada ou mesmo de forma direta, estes parlamentares ferem o decoro e devem responder por isso.
Portanto, defendemos punição exemplar aos parlamentares em questão e afirmamos o compromisso público de cada vez mais lutar contra o preconceito, o machismo, a homofobia e toda e qualquer forma de discriminação.
Assina:
COORDENAÇÃO NACIONAL DO COLETIVO DE ENTIDADES NEGRAS (CEN)