domingo, 22 de maio de 2016

FESTA DO DIVINO DO MARANHÃO



A festa do Divino Espírito Santo é um ritual do Catolicismo que possui características específicas em diferentes regiões. No Maranhão apresenta características marcantes e bastante peculiares a presença marcante de mulher es - as caixeiras, que tocam instrumentos musicais denominados caixas do Divino. Tem sua maior representação em Alcântara, município maranhense, mas ocorre um grande número e casas na Capital São Luis. A época de realização da festa varia com as casas, iniciando-se a partir do domingo de Pentecostes – entre maio e junho, e continuando até inícios do ano seguinte. Segundo estimativas do Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho, órgão vinculado a Secretaria de Estado da Cultura, são realizadas anualmente mais de uma centena de festas do Divino em São Luís. Algumas poucas pessoas também organizam a festa em suas casas.

As caixeiras constituem elemento imprescindível e típico da festa do Divino no Maranhão. São senhoras idosas com o encargo de tocar caixas e entoar cânticos, repetidos de cor ou improvisados, em louvor ao Divino Espírito Santo. Costumam fazer isso por promessa ao longo da vida e vinculam-se a um grupo de seis a dez ou mais pessoas, que anualmente toca em diversas casas, sob a liderança da caixeira régia, ajudada pela caixeira mor. Normalmente as caixeiras não recebem remuneração, mas são muito valorizadas. Recebem alimento, algum dinheiro para transporte, vestimentas iguais em algumas festas e são agradadas com presentes e mantimentos. Além de tocar e cantar, elas dançam com as bandeireiras diante do trono e do mastro.



A abertura da tribuna, o buscamento e o levantamento do mastro são etapas preparatórias da festa que, como vemos, é extremamente ritualizada. A abertura da tribuna é um ritual quase privado, do qual participam poucas pessoas envolvidas. É realizado numa tarde de domingo durante algumas horas, geralmente no Domingo de Páscoa, após o Sábado de Aleluia; no domingo seguinte, dito da Pascoela; ou algumas semanas antes da data da festa. Nesse ritual aparecem, de modo evidente, vários outros símbolos da festa, como a pomba, a coroa, as caixas e bandeiras, que são colocados diante ou sobre o altar católico do terreiro ou na tribuna. As caixeiras se reúnem com o império, usando ainda roupas comuns e iniciam os toques de abertura. Parentes das crianças acertam detalhes e preparativos, combinando dias e encargos das visitas.



O buscamento do mastro costuma ser realizado num do mingo antes do início da festa. O mastro, colhido previamente pelo doador em pagamento de promessa, é levado para uma casa próxima. O buscamento constitui um ritual predominantemente masculino, realizado por homens amigos da casa, que se reúnem para carregá-lo, distribuindo-se bebidas alcoólicas e fazendo brincadeiras com conotações eróticas relacionadas a elementos fálicos. As caixeiras, o império, familiares e pessoas da casa acompanham o cortejo, tocando e cantando salvas alusivas ao fato, até o mastro ser colocado no local onde será erguido. Nos dias seguintes ele é preparado com folhagens e frutas, ou lixado e pintado, para ser levantado na frente ou nos fundos da casa. Uma das funções explícitas do mastro é assinalar, no bairro, que aquela casa está organizando uma festa importante. Como está próxima, combina-se com os pais das crianças e os organizadores os últimos detalhes sobre decoração, vestimentas e comidas. Pintado com cores da festa e com seu nome ou enfeitado com murtas, folhagens, frutas e bebidas, o mastro é encimado pelo mastaréu, com bandeira, com símbolos do Divino ou do santo comemorado, e, no topo, coloca-se uma pequena pomba esculpida em madeira. No mastaréu coloca-se sempre um bolo de tapioca. As caixeiras, o império, os padrinhos e outros encarregados batizam o mastro antes de ser erguido, dando voltas ao seu redor com vela, toalha, rezas e cânticos. Algumas vezes, nesse dia, durante a ladainha, também se batizam novas caixas que serão utilizadas na festa.




O levantamento do mastro assinala o começo da festa. É feito à noite, com ladainha, batismo, padrinhos, império, caixeiras, música e grande animação, reunindo bastante gente. A cerimônia do levantamento exige perícia e coordenação do trabalho de vários homens, encarregados de cavar o buraco e erguer o mastro com cordas e escadas. Costuma-se servir bolo, mingau, café e refrigerantes. A partir desse dia, intensificam-se os preparativos da festa com o preparo de doces e comidas, pintura da casa, arrumação do trono e das tribunas e todos os últimos detalhes. Quando o mastro está erguido e a casa está em festa, é costume haver, diariamente, uma salva de caixas ao amanhecer, ao meio dia e ao anoitecer, denominadas de alvoradas. Também costumam ser realizadas, nesse período, duas ou três visitas às casas dos mordomos e do império, com oferta de doces e refrigerantes.

A antevéspera e a véspera da festa são dias de trabalho intenso. Matam e salgam bichos de quatro pés, geralmente vários porcos e até boi; muitas galinhas e patos e se prepara grande parte da comida. Diversas pessoas passam a noite cozinhando, confeitando bolos, na decoração de mesas, do altar e dos tronos ou tribuna. Na manhã do dia da festa, marca-se o encontro na igreja em que é celebrada a missa. As crianças comparecem, pela primeira vez, com as vestimentas do império, acompanhadas de seus familiares. As caixeiras assistem à missa com grande número de acompanhantes e freqüentadores. Até inícios dos anos oitenta era comum, em São Luís, as caixeiras deixarem as caixas na porta da igreja. Hoje costumam entrar com as caixas, algumas vezes tocam uma salva no fim da missa e tiram fotos com o império ao lado do padre.


Após a missa, realiza-se um cortejo solene até a casa da festa. Consegue-se ônibus para levar e trazer o pessoal até parada próxima, de onde, na volta, o cortejo continua até o terreiro, acompanhado alternadamente pelo toque das caixeiras e algumas vezes por banda de música, desfilando com pompa, precedido por criança s que agitam bandeiras com símbolos do Divino e cores da festa. Soltam-se foguetes no caminho, sendo todos recebidos, solenemente, na porta da casa. Chegando da igreja, o império saúda o mastro, é instalado na tribuna e saudado pelas caixeiras. Costuma-se servir chocolate com bolo aos presentes.



A derrubada do mastro é uma das etapas rituais importantes que assinalam a finalização da festa. Costuma ser feita no início da noite do segundo dia, seguida ou antecedida por ladainha solene. Com toques de caixas e a presença do império, o mastro é derrubado por vários homens, acompanhado por vivas, palmas e fogos de artifício. Como o levantamento, a derrubada exige perícia dos homens encarregados desse serviço. Geralmente ficam suados, tiram a camisa e demonstram orgulho pelo trabalho árduo que executaram, observados pelas mulheres, crianças e pelo público, acompanhado de aplausos, toques de caixas e da banda de música. Após a derrubada, o mastaréu e a bandeira são entregues, pela organizadora, aos futuros padrinhos do mastro no próximo ano.

Depois, as caixeiras se reúnem diante da tribuna para proceder a entrega das posses do império aos próximos imperadores e mordomos, com toques, cânticos e lágrimas das crianças que deixam os cargos. O fechamento da tribuna assinala o término da festa, com as caixas sendo arriadas ao chão.